Com o avanço da agenda ambiental e a crescente busca por materiais de baixo impacto, o vidro tem se destacado como um dos protagonistas na transição para uma economia mais sustentável. Amplamente utilizado na construção civil, na indústria automotiva e em embalagens, o material passou a ser valorizado não apenas por sua versatilidade, mas também pelo seu potencial de circularidade e baixo índice de emissão de carbono quando reciclado.
O vidro é um material 100% reciclável e pode ser reaproveitado infinitas vezes sem perda de qualidade ou pureza. No Brasil, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), cerca de 47% do vidro produzido é reciclado, percentual que ainda pode crescer com políticas públicas de incentivo e maior conscientização da população. Quando reciclado, o vidro demanda até 30% menos energia no processo de fusão, além de reduzir diretamente a emissão de gases de efeito estufa.
Outro ponto positivo no material é que ele pode se encaixar na lógica da economia circular — em que resíduos voltam à cadeia produtiva como matéria-prima — que tem sido incorporada por grandes indústrias do setor. Empresas estão investindo na coleta seletiva, na modernização de fornos e no uso de cacos de vidro (cullet) em novos produtos. Esse reaproveitamento permite a fabricação de embalagens com menor emissão de CO₂ e menor consumo de insumos naturais, como areia, barrilha e calcário.
Em alguns casos, o uso de cullet chega a representar mais da metade da composição de novos vidros, o que contribui para a redução da extração de recursos naturais e para o prolongamento do ciclo de vida do material.
Vidro de baixo carbono
Além da reciclagem, o setor tem investido em tecnologias para reduzir a pegada de carbono em toda a cadeia produtiva. Algumas destas incluem a substituição de combustíveis fósseis por energia limpa, a modernização de processos térmicos e a eficiência energética dos fornos têm sido estratégias adotadas pela cadeia produtiva para oferecer vidros de baixo carbono, especialmente em segmentos como construção verde e arquitetura sustentável.
O uso do vidro como isolante térmico também tem papel importante em projetos de eficiência energética. Fachadas envidraçadas com controle solar, por exemplo, reduzem a necessidade de ar-condicionado e contribuem para certificações como LEED (Leadership in Energy and Environmental Design).
E na prática?
O setor vidreiro brasileiro tem avançado rumo à sustentabilidade graças à adoção de processos mais verdes e a expansão da economia circular. Empresas de diversos segmentos — de bebidas a embalagens — têm investido em reciclagem de vidro, redução de emissões de carbono e integração de resíduos como matéria-prima.
- Ambev: adota há anos o uso de garrafas retornáveis — hoje, 25% das garrafas vendidas no país são reutilizadas –, e em suas fábricas de vidro, mais de 50% da matéria-prima já vem de cacos reciclados.
- Grupo Muda Ambipar: por meio do projeto Muda Circular, coleta vidro pós-consumo em São Paulo e o entrega a recicladores e fabricantes. Em parceria com o Grupo Boticário, reintegra mensalmente cerca de 20 toneladas de vidro na cadeia produtiva.
- Verallia: multinacional com plantas em Porto Ferreira (SP), Jacutinga (MG) e Campo Bom (RS), utiliza 100% de energia elétrica renovável nessas unidades. O grupo busca 60% de eletricidade de baixo carbono até 2025 — meta já praticamente alcançada com contratos de PPA e matriz limpa — e pretende chegar a 90% até 2040.
- Heineken: em parceria com a Ambipar, inaugurou em Jaboatão dos Guararapes (PE) um centro para triagem e beneficiamento de vidro, voltado para reciclagem e geração de renda para cooperativas locais — parte de uma iniciativa de R$ 8 milhões e previsão de 60 empregos diretos e indiretos.
- Ecoglass: focada na reciclagem de fibra de vidro, transforma resíduos pós-produção em novas matérias‑primas e produtos, exemplificando a reutilização industrial de subprodutos.
- “Vidro Vira Vidro” (Verallia): instalou cerca de 600 pontos de entrega voluntária de vidro até 2023 e mira 1.500 até 2026, com potencial de coletar 24 mil toneladas de cacos por ano, promovendo uma solução para potencializar a logística reversa.
Desafios e oportunidades
Apesar dos avanços, o Brasil possui diversos desafios para ampliar a reciclagem de vidro. A coleta seletiva ainda é insuficiente em muitas cidades e o transporte do vidro pós-consumo, por ser um material pesado e volumoso, representa um gargalo logístico. O apoio a cooperativas, a ampliação de pontos de entrega voluntária (PEVs) e parcerias entre setor público e privado são medidas essenciais para fortalecer a cadeia da reciclagem.
Para ver na prática
As novas soluções de sustentabilidade da indústria do vidro é um dos temas que poderão ser encontrados na Glass South America, que é o mais importante evento do setor vidreiro na América Latina, reunindo em um só lugar os principais players da indústria, desde fabricantes e distribuidores até compradores e profissionais especializados. Com uma tradição de mais de duas décadas, a feira se consolidou como o ponto de encontro obrigatório para empresas que buscam ampliar sua rede de contatos, fortalecer parcerias e fechar negócios. Para garantir sua inscrição, clique aqui.