Até alguns anos atrás, era muito comum que desempregados ou pessoas querendo aumentar a sua renda com um bico buscassem oportunidades na pintura. Era uma ocupação que, no entender dessas pessoas, não necessitava de muito conhecimento ou treinamento. Era um entendimento equivocado, mas havia espaço para a atuação desses “pintores” (deixo entre aspas para destacar que eles não eram propriamente pintores, apenas quebrando um galho nessa atividade).
Essa situação persistiu por bastante tempo e, apesar de ter contribuído para a sobrevivência desses indivíduos e suas famílias, provocou efeitos negativos no mercado. A falta de compromisso com a profissão e com o investimento no aperfeiçoamento de conhecimentos e habilidades fazia com que muitos serviços de pintura deixassem a desejar, em termos de resultados imediatos e a longo prazo, de durabilidade, de prazo de execução, de cumprimento de orçamento, de escolha dos produtos adequados e mesmo de comportamento do “pintor”. Como consequência disso, muita gente passou a ver a pintura do seu imóvel como um transtorno. É claro que isso tinha impacto direto nas vendas de tintas, pois a lembrança da má experiência levava as pessoas a adiar ao máximo a pintura e a engavetar planos de renovação ou melhoria dos ambientes em que viviam e trabalhavam.
Estava ruim, mas a conjunção de três fatores fez com que esse quadro se modificasse bastante nos últimos anos.
O primeiro deles foi a busca ativa, por parte de um número crescente de pintores, de valorização profissional e de aprimoramento das suas competências. O Movimento Brasil por um Pintor Melhor (MBPM) e a Associação Brasileira dos Pintores Profissionais (ABRAPP) têm muito a ver com isso, com seu trabalho para o desenvolvimento dos profissionais. Muitos fabricantes e revendedores de tintas entenderam esse movimento e intensificaram as suas ações voltadas para a capacitação e o reconhecimento ao papel fundamental desempenhado pelos pintores. Em função dessa verdadeira corrente do bem, não tenho dúvida em afirmar que, entre os públicos que lidam com as tintas, os pintores foram os que mais evoluíram nos últimos 10 anos.
Um segundo fator essencial foi o grande impulso que a pandemia de Covid-19 – com grande parte da população confinada em suas residências – deu à tendência de cuidar dos imóveis. A pintura passou a ser, cada vez mais, percebida como a maneira mais barata de melhorar, renovar e personalizar ambientes, o que abriu mais oportunidades para os pintores profissionais trabalharem e mostrarem como podem oferecer, com qualidade, as mais variadas e surpreendentes soluções em termos de pintura. A maior oferta de equipamentos e acessórios avançados, associada à profissionalização dos pintores, impulsionou ainda mais essa possibilidade de prestação de um serviço de alta qualidade, eficiente e rápido.
O terceiro importante fator foi o surgimento de novas alternativas de trabalho que não exigiam formação e que ofereciam maior autonomia. É aí que entram o Uber e o IFood citados no título deste artigo, assim como outras das chamadas empresas de aplicativos. Essas empresas, involuntariamente, ajudaram o setor de tintas, atraindo as pessoas que poderiam se tornar “pintores”. Ficaram na profissão aqueles que viam oportunidades, que se identificavam com a pintura, que buscavam se desenvolver e se tornar especialistas. Ou seja, que tinham compromisso e que se orgulhavam do que faziam.
O processo de mudança ainda está em curso, mas se pode afirmar que os pintores seguem evoluindo no rumo da capacitação e da profissionalização. Cabe, portanto, um elogio aos profissionais que escolheram a pintura como seu ganha-pão, pela disposição em estar sempre se aperfeiçoando e por se dedicarem plenamente a essa atividade.
Ser pintor não é para quem não sabe o que fazer ou quer só um bico. É para quem pretende entregar serviços muito bem feitos, que tragam alegria, beleza, satisfação, bem-estar, qualidade de vida e outros resultados positivos para os seus clientes!
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* Fabio Humberg é diretor de Comunicação e Relações Institucionais da Abrafati – Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas